Racismo virtual
A internet não é um mundo diferente desse em que acordamos e dormimos. É só mais uma ferramenta que media nossas relações, que incrementa nossa experiência com o que entendemos por real. Sendo assim, a maneira como nos comportamos nas interações virtuais não é completamente apartada de quem somos fora da internet. Pelo contrário, a internet é muito mais uma caixa de ressonância da sociedade, ampliando as vozes, intensificando os encontros, e revelando os horrores que antes se ouviam como sussurros aqui e ali. Sussurros, vale lembrar, para quem não é o alvo do ódio. Mulheres, homossexuais, pessoas negras, sabem que o preconceito não nasceu com a banda larga.
Apesar disso, é comum que textos sobre o assunto se foquem na sensação de anonimato para explicar o que parece ser uma tendência de as pessoas sentirem-se livres para proferir comentários racistas na internet. Certamente as caixas de comentários de qualquer portal de notícias dão inúmeros exemplos de pessoas que se escondem por trás da possibilidade do anonimato para destilarem seus preconceitos. No entanto, também podemos encontrar com facilidade exemplos de pessoas usando seus perfis pessoais abertamente para propagar mensagens de ódio. Sem qualquer pretensão de anonimato, essas pessoas sentem-se livres para expressar seu racismo. Fora da internet, mas ainda tratando-se de comunicação, é desnecessário enumerar os casos em que a negritude foi objeto do riso ou alvo da violência de um sistema supremacista branco. Para citar um exemplo que ilustra a encruzilhada entre racismo, sexismo e intolerância religiosa, podemos lembrar de Alexandre Frota confessando graficamente no programa de Rafinha Bastos que estuprou uma mãe de santo.


justificando.cartacapital.com.br/2015/04/16/o-que-ha-de-real-no-racismo-virtual/
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